A cultura do tabaco é muito mais do que uma tradição agrícola na Região Sul do Brasil — ela é uma engrenagem essencial da economia em 509 municípios. De acordo com dados do setor, a última safra movimentou R$ 11,8 bilhões em receita para produtores integrados e gerou cerca de R$ 16,8 bilhões em impostos, com exportações que alcançaram US$ 2,89 bilhões em 2024. Ao todo, cerca de 626 mil pessoas estão diretamente envolvidas com a cadeia produtiva do tabaco.
No entanto, esse modelo de sucesso corre riscos. Projetos de lei em tramitação nos estados do Paraná (PLs 119/2023 e 110/2025) e Santa Catarina (PLs 010/2023 e 0273/2024), e já aprovados no Rio Grande do Sul, propõem mudanças no processo de classificação do tabaco diretamente nas propriedades rurais. A medida, segundo entidades do setor, ameaça o Sistema Integrado de Produção de Tabaco — uma parceria entre produtores e empresas que se tornou referência no agronegócio.
Para Valmor Thesing, presidente do SindiTabaco, essas propostas podem causar um rompimento perigoso na cadeia produtiva. "Por que uma empresa financiaria insumos e prestaria assistência técnica gratuita sem garantias de receber a safra contratada? O Sistema Integrado traz segurança para todos os envolvidos", defende.
O Sistema Integrado garante que o planejamento da safra seja feito com base na demanda do mercado global, promove a qualidade do produto e assegura assistência técnica aos produtores. Além disso, o modelo prevê o transporte da produção, financiamento da safra e garantia de comercialização, evitando prejuízos aos pequenos agricultores.
Thesing destaca ainda que a classificação do tabaco nas propriedades comprometeria a padronização exigida pelo mercado internacional. “As condições técnicas, como iluminação adequada e equipamentos aferidos pelo Inmetro, só são possíveis dentro das estruturas das empresas”, explica.
A crítica principal dos defensores do modelo atual é que a politização do tema pode afastar o debate técnico necessário para ajustes no sistema. “O Foniagro (Fórum Nacional de Integração do Tabaco) é o espaço legítimo para essa discussão. Soluções técnicas devem prevalecer sobre pressões populares que desconhecem as complexidades do setor”, conclui Thesing.
Diante desse cenário, o futuro da cadeia produtiva do tabaco na Região Sul dependerá do equilíbrio entre a preservação de um modelo consolidado e a busca por melhorias que respeitem as particularidades do setor, sem comprometer sua competitividade internacional e a subsistência de milhares de famílias.