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Tabaco no Sul: Tradição Econômica Ameaçada por Projetos de Lei Estaduais
Mais de 600 mil pessoas vivem da cultura do tabaco na Região Sul, mas mudanças legislativas podem desestruturar um modelo de produção considerado referência no agronegócio brasileiro.
Por Administrador
Publicado em 24/04/2025 07:31
Agricultura
Foto: Anu Jornalismo

A cultura do tabaco é muito mais do que uma tradição agrícola na Região Sul do Brasil — ela é uma engrenagem essencial da economia em 509 municípios. De acordo com dados do setor, a última safra movimentou R$ 11,8 bilhões em receita para produtores integrados e gerou cerca de R$ 16,8 bilhões em impostos, com exportações que alcançaram US$ 2,89 bilhões em 2024. Ao todo, cerca de 626 mil pessoas estão diretamente envolvidas com a cadeia produtiva do tabaco.

No entanto, esse modelo de sucesso corre riscos. Projetos de lei em tramitação nos estados do Paraná (PLs 119/2023 e 110/2025) e Santa Catarina (PLs 010/2023 e 0273/2024), e já aprovados no Rio Grande do Sul, propõem mudanças no processo de classificação do tabaco diretamente nas propriedades rurais. A medida, segundo entidades do setor, ameaça o Sistema Integrado de Produção de Tabaco — uma parceria entre produtores e empresas que se tornou referência no agronegócio.

Para Valmor Thesing, presidente do SindiTabaco, essas propostas podem causar um rompimento perigoso na cadeia produtiva. "Por que uma empresa financiaria insumos e prestaria assistência técnica gratuita sem garantias de receber a safra contratada? O Sistema Integrado traz segurança para todos os envolvidos", defende.

O Sistema Integrado garante que o planejamento da safra seja feito com base na demanda do mercado global, promove a qualidade do produto e assegura assistência técnica aos produtores. Além disso, o modelo prevê o transporte da produção, financiamento da safra e garantia de comercialização, evitando prejuízos aos pequenos agricultores.

Thesing destaca ainda que a classificação do tabaco nas propriedades comprometeria a padronização exigida pelo mercado internacional. “As condições técnicas, como iluminação adequada e equipamentos aferidos pelo Inmetro, só são possíveis dentro das estruturas das empresas”, explica.

A crítica principal dos defensores do modelo atual é que a politização do tema pode afastar o debate técnico necessário para ajustes no sistema. “O Foniagro (Fórum Nacional de Integração do Tabaco) é o espaço legítimo para essa discussão. Soluções técnicas devem prevalecer sobre pressões populares que desconhecem as complexidades do setor”, conclui Thesing.

Diante desse cenário, o futuro da cadeia produtiva do tabaco na Região Sul dependerá do equilíbrio entre a preservação de um modelo consolidado e a busca por melhorias que respeitem as particularidades do setor, sem comprometer sua competitividade internacional e a subsistência de milhares de famílias.

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